mas estar lúcido na cena de teatro
e no ato que se atua".
Questão: por que algumas pessoas que afirmam saber o que é o Absoluto e afirmam ver esse mundo tal como ele é, ou seja, uma ilusão, desejam que esse mundo conclua-se, o mais rapidamente possível?
Bem amado, como você diz, é a pessoa que deseja isso e não o Absoluto.
Mas, enquanto você está inscrito em uma pessoa, você é tributário do tempo, tanto do início como do fim, tanto de sua vida como da vida nesse mundo.
Não uma vez, quando de minha encarnação, eu não teria aceito responder a uma questão concernente ao tempo e ao fim do tempo, ou ao fim dos tempos, porque, efetivamente, o Absoluto não pode ser, de modo algum, concernido por isso.
Mas isso pode ser uma distração para a pessoa, na condição de estar consciente disso.
Aquele que vive o Absoluto não tem necessidade de dizê-lo e, ainda menos, a necessidade de demonstrar o que quer que seja.
O Absoluto não é concernido nem pela trama histórica nem pelas diferentes alterações da verdade, porque ele apreendeu que o mundo está no interior dele e que nada de tudo isso é eterno.
E tudo o que é efêmero tem um fim.
A partir do instante em que você está consciente disso, pouco importa que esse início e esse fim inscrevam-se no âmbito de sua vida, entre o início de sua vida e o fim de sua vida, pouco importa que a escala do tempo seja de milhares de anos ou dezenas de milhares de anos, isso nada muda.
Aquele que aguarda ou espera é a pessoa, mas apreenda, também, que o Liberado vivo, é ainda, uma pessoa.
Mas não é preciso ser enganado.
Se sua vida é apenas função do fim dos tempos, você está no erro; se sua vida é função do instante, você está na Verdade.
Porque o instante é eterno.
Mesmo o fim, ele mesmo, é efêmero e traduz o efêmero.
O mais difícil é nada desejar, nada projetar, mas estar lúcido na cena de teatro e no ato que se atua.
Isso não quer dizer que você acredite no teatro, isso não quer dizer que você acredite no jogo que se joga, e sobretudo, que você não é tributário disso, de um modo ou de outro.
O Liberado vivo não tem pressa de morrer, não tem pressa de esperar o fim do mundo, mas vive, de instante a instante, o instante presente.
Ele pôs fim ao sofrimento e ao medo, ele não teme nem seu próprio fim nem o fim do mundo.
Ele vive o que a vida dá a ele, a cada instante, sem modificar o que quer que seja, sem ser modificado pelo que quer que seja e, sobretudo, não pelo fim.
Um espetáculo de teatro tem um início e um fim.
Mas não se esqueça de que o teatro não existe, assim como o observador.
São apenas fragmentos de si mesmo, destinados a desaparecer.
Mas você não tem que fazê-lo desaparecer, ele desaparecerá por si só.
Você deve desengajar-se, mesmo, do fim, porque, se você é Absoluto, você sabe que o teatro não existe, não mais do que o observador, e que nada há a esperar.
Ao nada esperar, nada projetar, nada aguardar, você está disponível para si mesmo em sua eternidade, qualquer que seja a evolução e o futuro tanto de seu corpo como desse mundo.
Só esse corpo é ligado ao tempo e à história, não é o que você é.
Mas aquele que observou o teatro, mesmo se ele saiba que não é verdadeiro, sabe muito bem que o último ato está sendo jogado.
Mas ele não é afetado nisso, ele não se regozija, nem da persistência desse mundo nem do desaparecimento dele, isso é independente do que ele é.
Mas você tem o direito, de qualquer forma, de atuar no teatro, mas não é preciso que você fique apegado ou ligado à sua projeção de consciência concernente ao cenário do fim do ato final.
Considere, bem mais, qualquer que seja o fim da cena de teatro, incline-se mais em sua própria morte.
Como você considera a morte?
Lembre-se, quando da refutação, de que eu os convidava a mergulhar na origem de seu nascimento.
Do mesmo modo, para não ser alterado, no Si, como no Absoluto, é preferível não localizar o tempo ou, se prefere, o que vocês nomeiam o timing, mas, bem mais, estar lúcido sobre o que se joga na cena.
Mas não ser tributário da cena, porque isso o tira do eixo.
Isso faz apenas mostrar, em definitivo, que a balança pesa mais do lado do medo do que do Amor, mesmo se haja esperança em um tempo de fim, qualquer que seja, portanto, o fim do teatro.
Tudo depende de sua afetação, tudo depende de sua consciência, de seus pensamentos, de suas emoções, de suas projeções ou de sua capacidade para permanecer imutável em qualquer circunstância que seja, sem ter necessidade de controlar, de dominar.
É aí que você mostrará, realmente, a densidade do Amor em você, mesmo no efêmero.
Mas você não pode negar a própria noção de ciclo de vida, independentemente de qualquer alteração ou falsificação real de tudo o que é efêmero.
Ora, você está, nesse corpo e nessa carne, você está, nesse mundo, em outra escala de tempo, mesmo se os tempos reencontrem-se.
… Silêncio…
Prossigamos.
Questão: quando da leitura de um de seus satsang como Nisargadatta por minha companheira, eu não ouvi o último terço dessa leitura.
O que você pode dizer-me em relação a isso?
Feliz aquele que desaparece ao escutar-me.
Feliz aquele que não tem mais questão e cuja consciência apaga-se na presença de um Liberado.
Eu sempre disse, em minha encarnação, que minhas palavras não podiam falhar, porque eu exprimia a única verdade eterna e desobstruía suas memórias de tudo o que tratava de qualquer evolução, de qualquer dimensão, o que os põe a nu na vida eterna, na fonte da consciência, na qual tudo é perfeito, na qual tudo é duradouro e eterno.
Assim, portanto, ao escutar-me, você se escuta a si mesmo, em sua eternidade, e não mais aquele que exprime palavras, mesmo se ele é, realmente, Liberado vivo.
Você vai além da palavra, além do Verbo, você se junta às Moradas do Silêncio eterno, anterior ao som primordial, que eu nomeei, em minha encarnação, o Parabrahman.
Assim, portanto, feliz é aquele que desaparece ao escutar-me, porque ele mostra que não faz mais do que escutar-me ou ouvir-me, mas que ele se encontrou a si mesmo.
Sem nada recusar do limitado, mas transcendendo esse limitado pela Graça do Amor e da Eternidade.
Eu já havia dito que a melhor correlação que se pode fazer concerne ao sono.
Quando você dorme, o mundo desaparece, inteiramente.
Você cria, por vezes, outros mundos no estado de sonho, mas, mais frequentemente, você é, você mesmo, naquele momento, Turiya.
O adormecimento é o momento no qual você sai do teatro.
Não há mais jogos da consciência, não há mais interações de consciências umas com as outras, mas há retorno à fonte da consciência que é, eu o lembro, a a-consciência.
Só a pessoa coloca-se, em seguida, questões, mas ela não terá, jamais, resposta, porque a pessoa não é concernida pelo Absoluto, mesmo se o Absoluto englobe a pessoa, quando você é Liberado vivo.
Mas você não é enganado e, sobretudo, você não é afetado.
Aí está a Eternidade do Amor, aí está a Verdade, a única, que não conhece qualquer tempo, qualquer espaço e qualquer manifestação da consciência e, eu diria mesmo, qualquer aparição da própria consciência em qualquer dimensão que seja, e que, no entanto, está presente, ao mesmo tempo, em todas as dimensões, em todos os espaços e em todos os tempos.
Mas isso a consciência limitada, assim como o Si, não poderá, jamais, degustar, apenas aproximar-se.
… Silêncio…
Questão: ao escutar sua resposta sobre a origem de nossos pensamentos, apesar da presença de sua voz, eu nada retive.
Meus pensamentos desfilavam na tela de minha consciência, sem que eu ali portasse atenção.
Eu estava aí, sem estar aí.
A um dado momento, eu me reencontrei no espaço, a olhar as estrelas.
Você pode esclarecer-me sobre o que aconteceu e dar-me um conselho?
Semeador de Estrelas
http://semeadorestrelas.blogspot.com
5/10/2015-28/1/17
Tradução e Divulgação
Célia G.
Leituras para os Filhos da Luz
Versão PDF: http://ahp.li/d/75a4daa5555d81ae30b1.pdf
Versão e-book: http://online.fliphtml5.com/lxtt/rghi/#p=1